O Cálculo da vida
POR MARCOS FÁBIO BELO MATOS
Jornalista, Professor doutor do curso de jornalismo e Diretor da UFMA em Imperatriz
Jornalista, Professor doutor do curso de jornalismo e Diretor da UFMA em Imperatriz
marcosfmatos@yahoo.com.br
Certa vez, numa conversa sobre alianças feitas no universo da política, disse-me um dileto amigo que muitas dessas uniões partidárias esdrúxulas e, muitas vezes, inexplicáveis sob a lógica racionalista, tinham, na verdade, um fundo de justificativa no ‘cálculo da vida’ que determinados cacique(te)s políticos fazem. Pesados o tempo decorrido e as suas respectivas conquistas, o que sobra são alguns anos a mais que, se não forem aproveitados no momento oportuno, levarão o resto de suas existências para o limbo. Por conta disso, dizia ele, muitos vendem as convicções, a história de resistência, de militância coerente com seus princípios, os preceitos nos quais acredita(va)m, as leituras que lhe fizeram a cabeça e o coração, as palavras ditas e escritas, a amizade dos colegas de partido e de movimento em busca de um mundo melhor... Vendem e não se arrependem, por causa do cálculo da vida. O tempo que lhes resta não lhes permite mais ilusões: é preciso fazer ‘logo e agora’ o que for preciso para o resto da vida valer a pena (tome-se ‘valer a pena’, neste caso específico, por uma vida materialmente confortável...).Mas fiquei pensando em ampliar este conceito para outros campos. O cálculo da vida não vale só para os políticos, mas para todos nós. Em algum momento das nossas vidas, este cálculo acaba sendo feito, para o que quer que seja: para a salvação da alma; para a perdição da alma; para a vivência de um amor até então irrealizável; para o usufruto da vida em desregramentos de toda ordem (sexuais, etílicos, oníricos etc); para a efetivação de uma vida minimalista; para a efetivação de uma vida materialmente opulenta, cheias de badulaques da moda e de ícones de sucesso; para o abandono de (in)certezas; para a busca de uma espiritualidade sui generis; para não fazer nada e ficar ‘com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar’, como cantou o maluco beleza; enfim...
Para alguns, o cálculo só é feito na velhice, quando, temerosos do que possa haver do outro lado do mundo pintado pelo cristianismo, preferem não arriscar e já ir se consertando aos poucos – ou radicalmente! Ou então, massacrados por vidas absolutamente ordinárias, resolvem ‘chutar o balde’ e aproveitar o ‘restículo’ dos seus dias fazendo da sua vida o que passaram toda uma existência querendo e reprimindo, reprimindo e querendo... Outros, não: calculam suas vidas não pelo resto de tempo que falta, mas sim pelo que ganham se mudarem de imediato, e fazem as escolhas que lhe parecem devidas logo cedo. Outros, ao contrário dos dois exemplos, não mudam absolutamente nada a vida inteira, isso porque deixam que suas vidas sejam determinadas pelo cálculo que lhes fizeram outrem...
Em qualquer intensidade e dimensão, a qualquer tempo, é este cálculo que define como nossas vidas ficarão marcadas. É uma espécie de ‘matemática ontológica’, que vai definir toda a nossa capacidade de ser humanos – ‘ou não’, como diria Caetano. Seja como for, o melhor de tudo é quando essa conta nos traz uma sensação de adição. Pois quando sentimos que ela nos subtraiu, nem Freud...
Gosto dos textos desse cara, sempre sábios.
ResponderExcluirDa pena do professor Marcos Fábio, sempre nascem ótimos textos. Com a permissão dele, vou postar em meu blogue. Isso vem a calhar com a atual situação alianças atuais.
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