Uma tal de Alameda...
Por Priscila Gama
Endereço quase nunca encontrado facilmente, a Alameda João Paulo II, localizada à Av. São Sebastião, segunda entrada para quem vai para o Bairro da Vila Nova, é uma rua sem saída, desbravada pela Caixa Econômica Federal no início da década de 80.
A essa época, o local era uma verdadeira mata fechada. Aos arredores, além da mata e dos riachos, apenas ruas mal abertas de piçarra pintando de vermelho as casas recém construídas.
A família de Antonieta Santos foi uma das primeiras a chegar por lá. Ela conta que de inicio muitos animais apareciam, e toda noite ia dormir com muito medo dos barulhos que vinham da mata por trás da sua casa. “No período de chuvas era um pesadelo, minha casa era inundada pela água do riacho que corta o sítio” – como ela chama o pedaço de mata amazônica que ainda hoje resiste ao final da rua, hoje murada.
Após dois anos morando sozinha, chegaram mais duas famílias, entre elas, a minha. Ainda recordo do local, que para mim, do alto de meus quatro anos de idade parecia a oportunidade ideal para gastar minhas energias e dar asas às minhas idéias mais mirabolantes.
A Alameda tem suas histórias. Moradores antigos, que de tempo em tempo recebem moradores migrantes, que duram cerca de dois anos e se vão, mas que sempre deixam marcas. Foi assim que os moradores da pequena rua sem saída ganharam até uma identidade: Alamedenses. Mais que Imperatrizenses, eles se consideram parte integrante da história desse pedacinho de Vila Nova, com um pouco de Jardim Lopes e que inicialmente chamava-se Morada das Amêndoas (em alusão aos inúmeros pés de amêndoas que haviam por lá).
Hoje muita coisa mudou. O desmatamento chegou à Alameda. Os estranhamentos entre os vizinhos também. Os pés de amêndoas não existem mais. Até mesmo uma mangueira, muito antiga e que por anos fez parte da história de todos ali, foi cortada clandestinamente por um dos moradores gerando muita confusão.
As casas antes todas padronizadas ganharam novas arquiteturas. Os moradores tornaram-se exclusos, cada um no seu cantinho, eles só se reúnem raras vezes aos fins de semana, curiosamente quando falta energia, ou de quatro em quatro anos quando ocorre a Copa do Mundo. Na ocasião, a rua toda se mobiliza e se pinta de verde e amarelo trazendo de volta um tempo de intimidade que se perdeu.
Mas a Alameda ainda guarda memórias de um tempo em que os que hoje são pais eram filhos, e brincavam na rua ainda piçarrada, e viram o asfalto chegar com grande euforia, desbravavam a mata com suas bicicletas e os riachos em caixas de isopor que serviam de barco, se dependuravam nas árvores, matavam cobras, passarinhavam, comiam passarinho assado como se fosse iguaria e corriam de malucos que vez ou outra fugiam do hospício que ficava próximo, causando grande alvoroço.
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