18 de fev. de 2014

"Le costê de parruê"

Às quatro horas da manhã, quando ainda nem os galos cantaram, a Kombi da família Silva sai rumo ao entroncamento. Nas panelas, parte da culinária regional e como prato principal, a panelada. Famosa na cidade e herdada de pai para filho a panelada Cruzeiro do Sul é ponto de encontro de todas as camadas sociais. Os turistas quando vem para a cidade também passam por lá para degustarem o famoso prato típico Imperatrizense.

O sol começa a subir, a noite e a farra vão se acabando e é nessa hora que o movimento nas barracas de panelada das Quatro Bocas registra maior numero de clientes. Em Imperatriz é assim. Se uma boa farra não acaba em sanduíches gigantes com creme de leite na Praça de Fátima, certamente acaba nos “le costê de parruê”, apelido dado às barraquinhas que ficam 'de costas para a rua' onde se comercializa o famoso e aclamado cozido das vísceras e do mocotó do boi. E elas estão por toda parte da cidade!

Dona Maria da Paz não tem uma barraca montada nas Quatro Bocas, mas tem um carrinho, que leva para onde quer, e lá é o local preferido para estacioná-lo. Ela e o marido revezam nos trabalhos, quando um cozinha, o outro vai para o ponto, fazem isso durante toda a semana para evitar a estafa. “Não deixa de ser cansativo né? A gente gosta de fazer, mas é uma luta muito grande, tem dia que o corpo pede descanso mas a boca dos filhos aberta não deixa a gente parar”, explica Josias, esposo de Maria da Paz.

Fora a panelada, as barracas padronizadas das Quatro Bocas servem ainda caldo de mocotó, assado de panela, sarapatel, bode no leite de coco e galinha caipira. Tudo entre quatro e seis reais, servido com arroz, cheiro verde, uma pimentinha, limão e farinha de puba, de acordo com o gosto do cliente.

Já passam das 4h da manhã. Atentos observamos o movimento do ponto logo após um grande show que ocorreu na cidade. São jovens, adultos, turistas de passagem, curiosos, todos degustando o prato que já faz parte da identidade imperatrizense. “Isso aqui cura qualquer ressaca moço”, fala Orlando Silva (28), exímio frequentador das barracas das Quatro Bocas.

Nesse simples PF, para o antropólogo Roberto Da Matta, está um forte traço da cultura brasileira. Segundo ele, nós, brasileiros, sempre privilegiamos comidas nacionais e preferimos sempre os alimentos cozidos. Do cozido à peixada e à feijoada. Da farofa ao pirão e aos molhos, guisados e mexidos, às dobradinhas e papas. Parece que temos especial predileção pelo alimento que fica entre o líquido e sólido, evitando o assado, alimento que não permite a mistura, escreveu em seu livro “O que faz o Brasil”?

Foto: Mauro Aragão

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Mais do mesmo:

Os jornalistas Fernando Ralfer e Elicléia Claricia produziram um vídeo documentário sobre a panelada. Em "De costas para a rua", eles trazem um pouco mais sobre esse universo, e as pessoas que dele fazem parte. Veja em: www.youtube.com/watch?v=zdTos-tKhpM

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