25 de fev. de 2010

Registrando: Mais de um Santa Rita


SOBRE ALTOS E BAIXOS

Carla Kassis Costa Farias
Leonardo Varão Silva



São 8h18 da manhã, 19 de Janeiro de 2010, ainda meio sonolentos, vamos até o ponto de ônibus, o nosso destino é o Bairro Santa Rita, lugar ainda um pouco desconhecido por nós, já que esporadicamente passamos por lá.

Entramos em um microônibus da empresa VBL n. 84, onde o motorista recebeu o nosso dinheiro e nos voltou R$ 0,40 centavos de troco, dentro do ônibus poucas pessoas indo ao serviço no centro da cidade.

É visível o rosto de sono dos poucos, algumas bocas bocejam enquanto estamos parados no sinal, nas ruas o vai e vem de carros, motos, bicicletas e o levantar dos portões de algumas lojas, nos dão o despertar daquela manhã.

Partimos em direção ao Santa Rita, mas, até chegar lá o percurso é longo e cansativo pelo centro da cidade. A palavra conforto é desconhecida por nós e por tantos outros que fazem aquela rota, o balancear do ônibus, o barulho de sua lataria, buzinas de carros nos fazem ficar atentos ao que vemos pelo caminho.

Com o bloquinho quase em mãos, devido ao balanceio, tentamos descrever o que nos inquietava, o que vimos e sentimos ao longo do caminho. A placa “não converse com o motorista” é ignorada tranquilamente, o bate-papo com alguns amigos que entram na condução é inevitável, como o ônibus não tem som, esse é o entretenimento do jovem motorista.

Continuando nosso passeio, a paisagem do Centro nos é familiar, carros, carroças, motociclistas, ciclistas, ambulantes e pedestres, são eles que compõem nossa visão, lojas, hospitais, escolas, vão construindo o centro de Imperatriz. Uma voz dentro do ônibus interrompe nossa observação pela janela, uma senhora pediu parada em alto e bom tom, já que o sinal do ônibus estava quebrado, paramos no Bacuri.

Conversas paralelas, trabalho e vida pessoal, o desce e sobe de passageiros é constante, até que chegamos ao Bairro Cristo Rei apenas nós, e mais uma pessoa permanecia no ônibus, o bairro possui uma infra-estrutura melhor (ao menos na rua principal), até agora, nada de Bairro Santa Rita, o percurso é muito longo, fato.

Após alguns minutos de balanços e sinais de trânsito, enfim a curva em frente ao Riacho Capivara, mato, esgoto e buracos, chegamos ao início do Santa Rita, muitos carros, rua estreita e terrenos abandonados é a nossa primeira impressão do bairro.

Nas calçadas desordenadas, crianças descalças brincam e outras correm por entre as ruelas que cortam a avenida principal, a paisagem não foge ao ritmo da cidade – o comércio – já que um amontoado de lojas e ambulantes se espremem nas ruas do bairro.

O bairro Santa Rita, como demais bairros da cidade, tem a fama de violento, perigoso (principalmente à noite) nos revelou durante aquela manhã as pessoas simples que moram ali, muitos idosos nas calçadas, debaixo de sombras, alguns lendo um livro, outros indo à igreja, mas, isso não deixou de aflorar em nós o olhar duvidoso sobre alguns pedestres.

A estrutura residencial do bairro é mista, casas simples, de madeira, pouca estrutura, ao lado casas maiores, portões, grandes muros, as várias classes sociais se mistura pelo grande Santa Rita.

Enquanto passávamos, não vimos nenhuma viatura da polícia pelo local, nada de extraordinário aconteceu, essa aparentou ser uma típica manhã no bairro, não podíamos deixar de relatar sobre a feira, muitas barracas, lixo espalhado, e um cheiro forte, ali, carroças, ciclistas e pedestres transitam impondo suas próprias leis.

Entre uma parada e outra do ônibus, o táxi-lotação disputava um passageiro, essa é uma prática muito comum na periferia de Imperatriz, ela acaba facilitando o deslocamento dos moradores ao centro por um preço mais em conta, já que a quantidade de ônibus é insuficiente.

A linha do ônibus 84 que tem o destino ao Santa Rita nos surpreendeu, ela atravessa outros bairros, o que nos revelou uma infra-estrutura tão caótica quanto a do Santa Rita, nosso trajeto passou ainda pelo bairro Planalto, Pq. São José, Imigrantes e Vila Macedo.

Todos estes bairros têm vários pontos em comum, casas construídas de forma desordenadas, a busca por segurança, (já que em quase todas as casas, o design não foge a regra – grades e cerca elétrica) matagal, esgoto a céu aberto, falta de pavimentação entre tantos outros descasos que não tivemos a oportunidade de observar mais de perto.

Depois de mais 30 minutos, trocamos de ônibus, e encaramos o sobe e desce das ruas, os morros, os balanços, as curvas fechadas, e com um pouco de dor de cabeça, observamos mais uma vez o Santa Rita, passamos novamente pelas placas de socorro a beira do Riacho Capivara, fizemos mais uma curva, estamos indo de volta pra casa.

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